sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A ORIGEM DA CAPOEIRA / Por: Ivan Freitas

A ORIGEM DA CAPOEIRA
Segundo alguns livros didáticos, o “descobrimento do território brasileiro”, é datado do dia 22 de Abril de 1500, por uma expedição européia, precisamente de Portugal, ou melhor, por uma esquadra comandada por Pedro Álvares Cabral.Passada a fase do então “descobrimento do Brasil”, veio a fase da colonização, ou da “exploração”. É quando o europeu inicia sua invasão e encontra neste território uma civilização diferente da sua, com costumes e tradições incompreendidas por eles, e os “selvagens”, assim rotulados pelos invasores portugueses, também se defrontam na mesma situação em termos culturais, só que não como invasor, mas, como sofredor da ação. E isso provoca um grande choque nas diferentes culturas, mas, para o lado do índio brasileiro o termo choque cultural significou muito mais do que para o europeu, pois, eles estavam sendo violados culturalmente.Ainda no Século XVI, inicia – se a fase do ouro granulado ou, do líquido adocicado, (da cana – de - açúcar) e os gananciosos latifundiários precisavam de engrenagens para mover suas ambições.Primeiro tentou – se com os índios que eram residentes e os verdadeiros proprietários das terras invadidas.Escravizar os indígenas não foi a melhor saída para os escravizadores, pois, os índios respeitavam e viam a terra como sagrada, como se simbolizasse uma mulher que se abria, recebia a semente e depois recompensa – lhe com o fruto, e com isso se negavam ao trabalho agrícola. Devido a essa forma de cultura demonstrada pelo índio, os exploradores não os entenderam e os taxaram de indolentes e preguiçosos. Por não aceitar o trabalho escravo o índio foge, sendo conhecedor da floresta, se esconde no mato e não retorna aos seus senhores.Por essa falta de mão de obra humana os senhores do açúcar passaram a utilizar os braços fortes do africano para trabalhar na agricultura, desenvolver e sustentar o país. Quando o negro chega no Brasil ele traz em sua bagagem cultural diversos elementos auxiliadores da construção de nossa cultura. Nessa riqueza cultural o negro escravo BANTU, realiza um ritual ou dança religiosa denominada de dança da zebra ou n’golo, que LAMARTINE no livro CAPOEIRA SEM MESTRE, publicado no ano de 97 pela Ediouro Publicações, afirma ser essa a raíz da àrvore genealógica da capoeira.“A forma primitiva da capoeira chegou ao Brasil com os negros Bantus, originários da África Ocidental. Essa fase inicial deve ter sido uma espécie de dança ou ritual” (p.13).Embora essa afirmação seja a mais defendida por muitos historiadores, há muitas contradições, alguns não acreditam nesta hipótese pois, só o fato de dizer que chegou ao Brasil, vem soar como se a luta não tivesse sua origem no nosso país e sim em território africano o que no desdobrar da evolução da construção e formação da cultura do povo brasileiro as setas apontam esse surgimento ou melhor brotamento a partir do sofrimento do negro escravo.A temática aguça cada vez mais as mentes dos estudiosos que entrelaçam seus pensamentos, discorrem e confrontam suas produções textuais. O fato é que muito se escreve e cada vez mais se distanciam do descortinamento dos entraves que escondem a origem da nossa luta.Ora LAMARTINE, diz que a capoeira é uma mera evolução da dança ou ritual bantu, isso se dá devido ao fato de que alguns movimentos ritualísticos da tal dança possua alguma singularidade com os movimentos de expressão corporal tida na capoeira. Mas, me contraponho a essa hipótese, se caminharmos na direção da seta que Lamartine tenta nos mostrar estaríamos tirando da cultura do nosso povo o direito autoral da luta.Pensemos na seguinte situação:Com a colonização, ou como o dito anterior, com a exploração do Brasil, deu – se início a escravização dos negros africanos. Esses negros escravos que chegaram no Brasil foram por um determinado tempo os pés e as mãos da economia brasileira. Os negros foram trazidos para o Brasil para trabalharem nas grandes fazendas açucareiras e em outras áreas agrícolas.Nesse processo o negro sofreu inúmeras amarguras, humilhações e muito sofrimento , por parte dos seus exploradores. Vendo os estados lastimantes desses cidadãos que na época não eram vistos como tal, muitos tentaram e lutaram por sua liberdade. Algumas Leis Abolicionistas foram criadas até a assinatura da Lei Áurea. Mas, a liberdade que os negros almejavam não estava em um simples artigo escrito em um papel.Os negros fortes, cansados de tantos maltratos, por algumas vezes nos momentos mágicos de “folga” do trabalho, viajam mentalmente e se viam correndo livremente em seu habitat, mas, quando acordam a sua realidade é outra, e isso os levavam a revoltarem – se e algumas vezes ficavam em estado de banzu, (referia – se a morte psicológica e logo em seguida a morte física, era uma espécie de depressão, se recusavam ao trabalho, por isso eram duramente castigados, e se recolhiam nos cantos das senzalas e se negavam a alimentar –se, enfraquecidos morriam de desnutrição.), outros cometiam o suicídio, pensando ser essa a forma mais rápida de se libertarem e voltarem as suas origens. Outros buscavam outra forma de libertação, e tentavam a estratégia da fuga coletiva ou as vezes era simplesmente um, mas por não conhecerem o território, eram facilmente capturados pelos capitães do mato e trazidos de volta ao trabalho forçado.Neste contexto o negro astucioso passa a praticar uma espécie de luta que lhe possibilitasse a libertação pós fuga, uma luta que no momento de sua recaptura feita pelo capitão do mato tivesse movimentos precisos capaz de derrubá-lo ou até mesmo matá – lo.Mas, como praticar uma luta como defesa pessoal e como pratica libertária do ato da barbaria praticada pelo branco, meio a tantas aflições e o que era pior sem tempo, devido a tanta labuta? Tentou – se, mas, logo foi proibido, pois seus senhores não queriam saber de ver negro treinando algo que podesse algum dia vir contra eles. Então o negro astucioso incrementou a luta com dança e como não se pode dançar sem música, a inseriu em seu contexto de luta, criando assim uma forma ritualística de lutar por um objetivo que era a sua liberdade. E quando os capitães do mato iam a sua procura eram fortemente atacados pelos movimentos dos negros. Quando chegavam e quando tinham chance de voltar diziam que o negro o tinha pego na capoeira. Nome esse dado pelos indígenas que ainda andavam em companhia de alguns negros. O nome foi dado ao espaço físico e não pela própria luta. Dessa forma o negro disfarça sua luta e pode então praticar frente aos olhos dos seus senhores que confundiam a luta com os cerimoniais fetichistas do povo escravizado. E dessa forma dá –se o brotamento da arte afro - brasileira. Meio a um processo cheio de angustia e sofrimento. Então, a capoeira não é uma simples evolução n’goliana ou zebriana do povo bantu, mas uma luta nutrida pelo sangue derramado por esses abnegados que fizeram brotar do seu sofrimento uma àrvore que lhes dessem um fruto. A LIBERTAÇÃO”. Visto assim, a capoeira não foi importada de lugar algum ela é o resultado de uma necessidade furiosa e violenta de liberdade, e isso nos contrapõe a afirmação de muitos autores e nos levam ainda há muito antes do surgimento dos quilombos palmarinos, que alguns dizem ser a data do surgimento da capoeira e que se deu nos quilombos, mas precisamente o de Palmares que surgiu no período da invasão holandesa no século XVII. Conta a história que muitos negros se aproveitaram da oportunidade e fugiram, andaram muito e foram parar em um lugar muito alto escondido por muitas palmeiras na serra da barriga e lá ficaram e formaram o maior e mais forte quilombo, e muitos acreditam ser esse o local do surgimento da capoeira, o que não é verdade, pois, como os negros iriam utilizar a luta para escaparem e chegar até os quilombos, uma vez que estando lá não regressavam as fazendas? E nesse contexto entra Zumbi, que muitos capoeiristas fãs do Rei Zumbi, acreditam fielmente que ele era capoeirista. Fato esse que segundo Esdras Magalhães Santos (Mestre Damião), em um artigo escrito a revista praticando capoeira edição nº 28 da Ed. DT + LTDA, derruba o mito Zumbi capoeirista e o transforma em uma lenda.“Zumbi jamais poderia ser capoeirista como querem (...), ele chegou em Palmares aos quinze anos (1670) e decorrido seis anos (1676), durante um combate recebeu um tiro na perna e ficou coxo. (...) . além disso antes de 1676 (data em que ficou coxo) até a data de sua morte (1695) não existe qualquer registro ou documento que ateste a prática da capoeira entre os palmarinos”.Se nos reportarmos para o período do descobrimento repararíamos que Orelana relata ter observado índios brincando de capoeira. Mas, como ele sabia que era capoeira? E se esse fato é verdadeiro por que os índios atuais não a praticam mais? E se os índios realmente praticavam capoeira não deveriam associar a luta com o espaço físico, pois, eles já conheciam e a praticavam em outros lugares, que segundo o nome e a luta é associado a uma ave chamada capuera-ispiche, que na época do acasalamento trava combates violentos com seus oponentes.Daí se levanta a hipótese de que o negro por andar em companhia de índios escravos, passou a praticar a luta indígena e os associou aos seus conhecimentos e transformou tudo em uma maneira diferente de combate a qual já vinha auto-denominada de capoeira.“A capoeira foi uma alternativa criada pelo negro, como uma necessidade física, cultural espiritual de defesa ao negro escravizado, que através do estagio humano cultural, produziu o mulato, caracterizado por ser dotado de maior visão e inteligência mais exercitada que o negro”. AMORIM. (p.135)Bem, são muitas versões que se contradizem com a evolução dos estudos, contudo o que podemos afirmar é que o negro possuidor de uma cultura riquíssima e passando por um processo violento de aculturação, como uma forma revolucionária de se adaptar ao ambiente que fora forçado a subsistir, anseia por liberdade, então cria em terras brasileiras a capoeira na sua forma mais primitiva. Dessa forma a capoeira passa a ser um fenômeno afro – brasileiro, que desde os tempos primórdios do desenvolvimento do País se funde com a própria formação do povo brasileiro.Ivan Freitas

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